“A tristeza é como uma árvore com a qual nos deparamos no caminho, sem nunca ter reparado em sua magnitude e beleza. São momentos que têm de ser vividos até o fim, até que se esgote, escorrendo pela face. Só assim poderemos viver plenamente o instante feliz que se apresentará cheio de vida e força, força para que possamos esquecer o passado, o instante anterior em que não dissemos. Agora é tarde. Podar a árvore, tirá-la da nossa frente não fará diferença alguma, pois a raiz já está cravada no cerne do nosso peito. Ao arrancá-la estaremos podando a tristeza do momento passado, a única coisa que talvez nos reste do que existiu. Que estejamos prontos a conviver com esta raiz, regando-a e usufruindo dos frutos que ela pode vir a nos proporcionar.” [1]

Li o primeiro romance da autora italiana Natalia Ginzburg (1916-1991), publicado pela primeira vez em 1942. Foi também meu primeiro contato com a obra da autora. Gosto da experiência de começar a ler um autor por seu primeiro livro. Às vezes, isso não dá muito certo é verdade – com a Elena Ferrante por exemplo, deu muito errado: até hoje não consigo voltar à autora depois de ler e não gostar de “Um amor incômodo”. Porém com a Natalia Ginzburg deu certo, O caminho que leva à cidade foi uma boa porta de entrada à sua obra.
O romance (desconfio que pode ser chamado de novela) não chega a ter cem páginas. Escrito em primeira pessoa, em um estilo memorialístico, é narrado por uma pobre moça italiana de dezessete anos. O enredo gira em torno do cotidiano familiar dessa menina: sua miséria e seus passeios pela cidade.
Não existe nenhum personagem cativante no romance. Todos, começando pela protagonista e narradora, não demonstram ter nenhuma virtude, mas sim, uma grande e deprimente futilidade em seu viver. Abrindo uma exceção talvez (não estou tão certa disso) para o outro protagonista da história: o Nini. Arrisco, o personagem mais interessante da obra.
Sem grandes acontecimentos e reviravoltas. Com uma história de amor presente e convincente, ainda que inexistente (quem já leu me entenderá). Com uma escrita simples. Sem final feliz. O caminho que leva à cidade é um romance tristemente lindo. Isso resume bem. Recomendo.
[1] Trecho citado da contracapa da edição. Não se sabe se foi escrito pela Natalia Ginzburg em algum momento ou se os créditos são devidos ao pessoal da editora “Primeira Edição”.
+INFO O CAMINHO QUE LEVA À CIDADE | Publicado originalmente em 1942 | Autora: Natalia Ginzburg (1916-1991) | São Paulo: Primeira Edição, 1998 | 165 páginas
Nota: ★★★★★
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Tristemente lindo, sem final feliz, soa também a deprimente. Em tempo de pandemia torna-se complicado.
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Olá Carlos! Confesso que ri quando li seu comentário. Mas tens razão, há alguns livros que eu passaria longe nesse tempo de pandemia. Esse especificamente é triste, mas não é de derrubar não 😀
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