Lembro-me perfeitamente daquele dia. Assim que passei pela portaria ela me chamou na recepção.
“Bom dia K.!”
“Bom dia L.!”
“Eu trouxe algo para você” – disse entregando-me um pequeno embrulho – “eu percebi que você gosta muito de ler, então, fiz isso para você.”
Eu abri o embrulho toda sem jeito, pensando se tinha dado tanto na cara assim as minhas leituras para o pessoal da empresa. Dentro do embrulho uma surpresa: eram três marca-páginas de fita de cetim e pérolas. Um rosa, um lilás e um azul de modelo diferente dos outros.
Eu sorri agradecendo ainda muito sem graça e com a cabeça longe. Pensava preocupada no que ela tinha visto para levá-la aquilo. Ignorava completamente a importância do momento. Aquele pequeno embrulho seria um dos presentes mais significantes que eu ganharia na vida. Um presente feito à mão, da atenção, da observação, da delicadeza de um gesto sincero de uma amizade não profunda.
Passados muitos e muitos anos ainda tenho os marca-páginas rosa, lilás e azul, comigo e com eles a lembrança viva dessa pessoa. (Essas linhas são minha homenagem à ela, meu sincero gesto.)