Um Mundo À Parte de Jodi Picoult | Rudi Baroncello

“Moldei minha vida em torno de fazer o que precisa ser feito, porque, por mais que se grite e esperneie, no fim, quando termina, continua-se enfiada até os tornozelos na mesma situação. Sou eu quem é forte, para que Jacob não precise ser.”

Jodi Picoult é aquela autora que li o meu primeiro livro dela e me apaixonei, disse que queria ler tudo dela, fui atrás de outras obras, paguei um absurdo por elas… e ficaram anos na estante, intocadas.

Nesse meio tempo até encontrei um outro livro para troca no Skoob, solicitei, li… e minha admiração pela genialidade da autora minguou bastante… Mas como já tinha os livros, gosto da escrita dela, e os temas parecem interessantes, resolvi ler mais alguma coisa dela. Optei por esse porque sabia se tratar de autismo e este é um tema que me desperta bastante interesse e do qual não sei muita coisa, apesar da psicóloga ter falado que suspeita que eu tenha leves traços disso… enfim…

Aqui conhecemos Jacob e sua família. Jacob tem 16 anos (se não me engano) e é portador de Asperger, uma forma de autismo. Sua mãe, Emma, vive em função do filho e perde o emprego no início do livro. Seu irmão, Theo, é amargurado por ter que viver em uma casa cheia de regras absurdas para que o irmão não surte por ver um arroz branco em uma sexta-feira, por exemplo. E seu pai… bem… ele abandonou a família quando viu que isso era mais fácil do que ajudar a esposa a criar seus filhos… grande cara ¬¬’

Por ter síndrome de Asperger, Jacob é super sistemático, segue rigidamente uma rotina, não reconhece sarcasmo, tem verdadeira devoção por regras e um interesse desumano por algum assunto específico, no caso de Jacob, ciência forense. Essa fixação, com frequência, faz com que ele se meta onde não é chamado. Grande fã de um seriado policial ele tem diversos cadernos preenchidos com anotações sobre os episódios que assiste todos os dias às 16:30. Com toda essa bagagem ele tem um bom tato investigativo, e mais de uma vez se meteu em investigações policiais e deu seus palpites que mesmo sendo considerados inconvenientes se mostraram reais.

Jacob tem também uma orientadora, com quem pratica interações sociais, coisa que sua condição dificulta bastante, e ele tem muito carinho por ela, é a única pessoa, além de sua mãe, que ele permite que encoste nele, mas um dia ela aparece morta, e Jacob é o principal suspeito.

É um livro de tribunal (acho que todos os da Jodi são, na verdade), e é interessante ver como ele aborda a questão do autismo, sobre o quanto se deve introduzir pessoas com essa condição na sociedade e fingir que são como as demais pessoas. Ele levanta a questão das vacinas e explica de onde vem essa crença de que são responsáveis pelo autismo.

Theo é um personagem que merece ser comentado, ele é o típico adolescente solitário e prestes a estourar, acompanhar os capítulos narrados por ele nos dá um misto de pena e raiva, em diversos momentos me peguei concordando com ele, mas também não foram poucos os quais o achei um idiota egoísta e tive vontade de dar uns tapas.

É uma história extremamente interessante e fluida, com personagens bem construídos e convincentes, por boa parte do livro chegamos a ter dúvidas sobre o que realmente aconteceu com Jesse, apesar de que não me surpreendi quando foi revelado, eu já imaginava e, sinceramente, é meio que a saída mais fácil e previsível, mesmo com toda a dúvida que a autora planta.

Como já disse, o livro valeria só pela questão do autismo, de como Jacob tem dificuldade em se encaixar no mundo, sua situação parece, por vários momentos, como a de uma criança mimada, isso é usado como argumento, inclusive, durante o julgamento.

Mostra também os desafios na escola, acompanhamos uma discussão em sala onde estão discutindo o livro Flores Para Algernon, que li pena antes de ler esse, o que foi uma coincidência interessante, inclusive a opinião do Jacob sobre o livro é bem parecida com a minha. Durante essa aula é levantada a questão de um tratamento para deixar Jacob “normal”.

Jacob reconhece sua condição e não demonstra muito problema em aceitá-la, seu maior problema é externo, com as pessoas o chamando de retardado (mesmo ele sendo bem mais inteligente que a maioria) e adjetivos semelhantes.

Em suma, é um livro que super vale a pena, não é a melhor coisa que a autora já escreveu, mas que vale a pena por cada linha, ele nos deixa intrigados e entretidos, nos perturba e nos emociona… talvez tenha me brotado uma ou duas lágrimas em determinados momentos.

*Publicado originalmente em 16/09/2020, no Hiattos.
*Foto de capa crédito aqui


+INFO Livro: Um mundo à parte | Autor: Jodi Picoult | Editora: Verus | Páginas: 585 | Amazon, Estante Virtual

★★★★☆

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