Helena de Machado de Assis

Vamos lá, disse ele; ninguém pode decidir o que há de fazer amanhã; Deus escreve as páginas do nosso destino; nós não fazemos mais que transcrevê-las na terra.” – Machado de Assis

Estou numa febre Machado de Assis? Estou.

Helena, de Machado de Assis, foi publicado pela primeira vez em 1876. É o terceiro romance do autor, conhecido como o mais romântico da sua obra.

O romance inicia-se com o anúncio de uma morte. Morre o Conselheiro Vale, um homem rico, dono de terras, muito respeitado. Ele deixa um filho, Estácio, e uma irmã, Dona Úrsula. Em seguida, o testamento do morto cai como uma bomba na família. O Conselheiro Vale reconhece uma filha que até então ninguém conhecia e lhe concede não só uma parte na herança, como seu lugar na casa que deve lhe abrir as portas imediatamente. Assim ficamos conhecendo Helena, uma bela e boa moça de dezessete anos, que carrega consigo muito mistério e será motivo de grande tensão nessa família tão logo ela pisa os pés na mansão da chácara do Andaraí.

É o segundo romance que leio do Machado. Li Helena logo depois de terminar Ressurreição – uma leitura que amei -, então como é de se esperar, minhas impressões imediatas colocam as obras lado a lado: Achei o enredo de Helena mais elaborado do que Ressurreição. Quanto a atmosfera de suspense criada, a leitura de Helena chegou a me dar angústia. A cada página lida o mistério crescia e como eu não dispunha de tempo para ler rápido me bateu aquela ansiedade. Quanto aos personagens, me apeguei mais aos personagens de Helena do que de Ressurreição também. Sei que essa questão de gostar ou não de um livro é mais subjetiva que imaginamos, todavia, digo que Helena realmente é uma história muito boa e envolvente.

Algo a se destacar em Helena, são as menções aos escravos, mas não só as menções, o olhar de Machado de Assis para escravidão, achei de grande sensibilidade. Ele não usa suas linhas para protestar. Mas um leitor atento será capaz de perceber que somente alguém que sentia, que sabia do quão terrível era a falta de liberdade, podia escrever dessa forma. Especialmente a cena em que Estácio e Helena estão cavalgando pela estrada e avistam um escravo, o diálogo entre os dois personagens é um trecho para recordar.

Outro ponto alto no romance, foi a figura do Padre Melchior. Achei esse personagem muito interessante. Ele é uma espécie de orientador espiritual da família e as descrições de sua personalidade, virtude, pensamentos e falas, são incríveis. Eu lembrei até que na leitura de O Alienista eu tinha ficado muito admirada com as mesmas descrições (personalidade, virtudes, pensamentos…) do personagem Simão Bacamarte, que é o “gênio” da obra. Em Helena, Machado descreve agora um “sacerdote” ideal, o que esperamos de um, o que desejaríamos encontrar e desfrutar da companhia e bênçãos. O papel que esse padre exerce na trama de sábio, mediador, conselheiro… é muito bom e comovente.

A questão Machadiana também, ainda que Helena seja bem bemmm romântico, com seus exageros e tudo, percebi alguns toques do realismo psicológico, que é afinal de contas o toque especial do autor.

Eu amei ler Helena, de verdade, é surpreendente como uma obra de 146 anos tem a força de nos divertir, envolver, ensinar… Para finalizar, gostaria de dizer a você que chegou até aqui nesse Blog 🙂 e ainda não leu nada do Machado de Assis, recomendo muito que você dê uma chance para esse autor clássico incrível da literatura brasileira. Apesar dos séculos que nos separam a escrita do Machado de Assis não é muito difícil – principalmente se comparada com outros autores de sua época -, ainda que sim, vai exigir algum esforço, mas que vale muito a pena. E caso aceitar o desafio, recomendo também que você comece pelos contos e não pelos romances. Eu fiz isso e essa é minha dica para qualquer pessoa que queira começar a ler qualquer autor novo, se tal autor escreveu contos, comece pelos contos. Do Machado eu recomendo os contos: O Alienista, O Espelho, Antes que se cases e A Causa Secreta.

+INFO Livro: Helena | Autor: Machado de Assis (1839-1908) | Primeira publicação: 1876 | Editora Paulus, 2009 | Páginas: 176 | Amazon | ★★★★★

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4 comentários sobre “Helena de Machado de Assis

  1. Já li várias obras de Machado de Assis, que dizem ser o concorrente e o escritor de igual nível de Eça de Queirós deste lado. Tenho um fascínio pelo Alienista, mas também gostei de D Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas, pouco mais li, mas dá para perceber a sua qualidade de escrita. Embora igualmente seja um crítico do comportamento social, é menos sarcático e viperino que Eça. Não li Helena, nem Ressurreição.

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    1. Olá, Carlos! Obrigada pelo comentário. Acredito que a fase romântica do Machado de Assis não vá agradar a todos os seus leitores. Pelas resenhas que li de Ressurreição e Helena na internet, tem muita gente que não gosta muito. Eu gostei e recomendo. Creio que Helena seja digno de atenção.

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  2. Helena é de fato um dos maiores romances de Machado de Assis. Além de ser extremamente envolvente (como você mesma afirmou, o suspense é intenso e ficamos fiéis à narrativa) e de ótima qualidade literária, é uma magistral imagem da condição feminina no século XIX, época em que as mulheres, oficialmente restringidas em sua atuação pública, estavam todavia se emancipando, seja pelo seu trabalho, pela sua busca pessoal de liberdade na vida privada, ou mesmo somente pela educação e busca do livre pensamento, como fazem Helena, Capitolina e Conceição. Aqui na Escola Feminista, nós estamos em uma fase de certa tristeza pelas mártires Mahsa Amini e Hadis Najafi, do Irã e agora estamos concentradas em apoiar as iranianas em seu movimento “Mulher, Vida, Liberdade”, que está intenso, com manifestações e queimas públicas de véu (hijab) em todo o país. Todavia, embora um pouco ausentes no momento de buscas literárias, desejamos boa leitura!

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